terça-feira, 7 de agosto de 2018
quinta-feira, 21 de setembro de 2017
terça-feira, 30 de maio de 2017
quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017
Ensaio_Projeto Olhares
Ensaio: Ação Educativa no Museu do Trabalho com Jovens Recrutas
Projeto Olhares, descobertas e
experimentação em Arte Contemporânea
Isabel Ayala[1]
Resumo: Neste artigo relato
a experiência na elaboração e aplicação do projeto de ação educativa "Olhares, descobertas e experimentação em Arte
Contemporânea", aplicado em 2016 no Museu do Trabalho, localizado
no Centro Histórico de Porto Alegre, com a participação de um grupo de jovens recrutas do
Exército Brasileiro.
Abordo em forma de ensaio a situação de origem do projeto e as motivações que
levaram às escolhas da instituição museal e do público-alvo, assim como as situações
ocorridas durante o desenvolvimento do mesmo. Apresento também os resultados, entre
eles a aproximação de um museu de arte e ofício com um público que circula em
seu entorno e que, no entanto, não conhecia a instituição. O objetivo deste artigo é mostrar minhas ações e impressões do início ao fim da
aplicação do Projeto Olhares, uma
atividade que trouxe importante contribuição às discentes para suas futuras práticas
de educação em museus.
Palavras-chave: ação
educativa; educação em museus; Museu do Trabalho; museu e público-alvo; Recrutas
do Exército.
Introdução
O
objetivo deste ensaio é apresentar a experiência que tive com o projeto, na
qual fui coautora, denominado "Olhares, descobertas e experimentação em
Arte Contemporânea", aplicado junto ao Museu do Trabalho, com a
participação de jovens recrutas do Exército, em novembro de 2016. O Projeto
surgiu a partir da disciplina Educação em Museus do Curso de Museologia da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, proposto pela docente, a Professora Doutora
Zita Rosane Possamai, como atividade prática do semestre. Foi lançado então, o
desafio de elaboração de um projeto de
ação educativa em museu, o qual precisaríamos planejar e aplicar junto a
uma instituição museal, considerando a participação presencial de um público
específico, ou seja, um exercício de teoria e prática. Definido o tipo de atividade
a realizar, mesmo com todas as incertezas possíveis, juntei-me à colega Marta
Busnello para realizarmos o projeto juntas[2].
Textos
de autores de áreas, tais como, educação
patrimonial, educação em museus,
educação em arte, foram indicados e trabalhados em sala de aula pela nossa
docente no decorrer do semestre, assim como foram realizadas visitas técnicas a
museus com a mediação de ex-colegas do Curso de Museologia e futuros colegas de
profissão. Alguns autores e autoras abriram nossos olhares para seguir um
caminho durante o desenvolvimento do trabalho. Conversas e discussões em sala
de aula também nos ajudaram a encontrar o foco do nosso projeto que, em dado
momento, mesmo depois de público-alvo e museu definidos, ainda não apresentava
um formato bem delineado.
Embora
tivéssemos uma boa intenção em relação ao que simboliza e representa a
aplicação de um projeto desta espécie, estávamos ainda confusas em como
realizar de forma concreta a proposta e em como expandir ou, até mesmo, limitar
nossos objetivos. Por tratar-se, então, de um projeto realizado por duas alunas,
apresento neste ensaio as atividades que realizamos juntas assim como as ações
de "bastidores" que realizei individualmente, das quais terei um
pouco mais de propriedade em relatar, comentar e analisar. Confesso que
escrever este ensaio foi mais complicado do que elaborar o projeto em si, pois
não foi fácil reorganizar todas as ações já realizadas e ainda fazer uma
análise sobre elas. Demorei muito até iniciar de fato a escrita deste relato
sobre a experiência, gratificante por sinal, de aplicar esta ação educativa através
de um projeto de educação em museu, o qual foi pensado, elaborado e executado
por nós, duas alunas ainda na fase inicial do Curso de Museologia.
Sem
a pretensão de mostrar como se pode fazer mas, com o objetivo de mostrar como
fizemos, apresentando tanto os acertos quanto as falhas, talvez esse texto torne-se
extenso, pois não tenho o talento necessário para deixar algo para trás, sem o
devido remorso. Minha intenção é realizar um ensaio onde as reflexões sobre a
aplicação propriamente dita da ação educativa junto ao público-alvo dentro do
Museu do Trabalho, venham acompanhadas da visão de todo o cenário que propiciou
a ideia para este projeto e o trabalho que desenvolvemos antes, durante e após a
visita dos jovens à instituição. Este ensaio ou relato de experiência, como
preferir, será desenvolvido numa linha de tempo o mais próxima possível da
sequência cronológica das ações. A partir daqui, refiro-me ao projeto em
questão, como "Projeto Olhares" ou "Olhares". Pretendo
apontar o máximo de ações realizadas, as quais considero, de alguma forma, válidas
a quem tiver interesse na área e que possa deparar-se com um desafio semelhante
ao nosso.
Espaço
geográfico
A
seguir, com o objetivo de situar melhor o(a) leitor(a) que talvez não conheça o
Centro Histórico de Porto Alegre, apresento o espaço geográfico onde foi
desenvolvido o Projeto Olhares, através de um detalhe do mapa da capital.
Imagem
acessada e alterada com as anotações em janeiro/2017
Fonte:
Google Maps.
Neste trecho de mapa acima, fiz algumas anotações,
apontando as três instituições envolvidas, onde fica evidente a proximidade entre as
sedes das mesmas.
A próxima imagem trata-se da fachada principal do Museu
do Trabalho com seus três pavilhões. Em primeiro plano o pavilhão de exposições e escritório da
administração; em segundo plano, o pavilhão da oficina de gravuras; em terceiro plano, o Teatro do Museu.
Museu
do Trabalho. Fachada principal - Rua dos Andradas, 230.
Fonte:
Acervo Isabel Ayala
Além do Museu do trabalho, considero importante
apresentar o Quartel da 8ª CSM e o Museu Militar. Os recrutas cumpriram, até o
final de 2016, o serviço militar na sede da 8ª CSM - Circunscrição de Serviço
Militar, responsável pelo alistamento e incorporação dos cidadãos da metade dos
municípios do RS. Sua sede localiza-se na Rua dos Andradas, em
frente ao Museu Militar do CMS e ao lado da Igreja Nossa Senhora das Dores. O
Museu Militar do CMS foi o local de encontro com os jovens militares e desde o
início, o local de comunicação com o Comando Militar, através da museóloga da
instituição, a Tenente Nathália Santos da Costa.
Quartel
da 8ª CSM - Circunscrição de Serviço Militar.
Rua dos Andradas, 629.
Fonte:
Internet (Google Earth)
Museu Militar do
Comando Militar do Sul (MMCMS).
Rua
dos Andradas, 630.
Fonte:
Acervo Isabel Ayala
As
três instituições envolvidas, com endereço na rua dos Andradas, coração e parte
do Corredor Cultural do Centro Histórico de Porto Alegre.
Contato com museus e público
Tivemos
poucos meses para entrar em contato com museus, público, receber as respostas
positivas, conhecer a instituição museal e suas atividades, assim como as
possibilidades com o público, além de elaborar, organizar e aplicar o projeto
em questão. Afinal, toda a ação deveria estar concluída até o final do semestre
letivo, que teve seu início no mês de agosto de 2016. O mais coerente seria
escolher uma instituição e um público-alvo que estivessem próximos
geograficamente.
Cabe informar que Marta e eu não tínhamos qualquer
relação profissional ou contato direto anterior com a instituição museal objeto
de nosso projeto, assim como com a instituição de nosso público-alvo. A escolha dos
jovens militares para vivenciar essa experiência junto a um museu, teve como
estímulo o fato de meu filho prestar serviço militar neste mesmo ano (2016).
Embora ele não faça parte do público participante, por não cumprir seu serviço
nas imediações do Centro Histórico, não pude deixar de perceber e
"olhar" os jovens militares
como um público-alvo em potencial, iniciando o contato com o Comando Militar do
Sul (CMS), logo após a proposta lançada em sala de aula.
No momento dos primeiros contatos
com o CMS, a instituição museal ainda não estava definida, pois aguardávamos as
respostas dos museus consultados. Quando entramos em contato com o diretor do
Museu do Trabalho, Hugo Silva, informamos a nossa intenção em realizar um
projeto que apresentasse o Museu aos Recrutas do Exército que trabalham no
Centro Histórico de Porto Alegre, ou seja, seus vizinhos militares. Alguns dias
depois, para nossa satisfação, tivemos a concordância do diretor. A partir deste momento, coloquei-me à
disposição do diretor Hugo Silva e ofereci minha colaboração, de forma
voluntária, junto às atividades relacionadas às exposições de arte. Meu
objetivo era conhecer um pouco do cotidiano do MT, sua história e a oficina de
gravuras, além de estreitar laços com a sua equipe de trabalho. Na mesma
semana, seguindo as instruções recebidas do Comando Militar do Sul, encaminhamos
um ofício junto ao protocolo da instituição, no qual solicitávamos à
corporação, a autorização da participação dos jovens militares em um projeto
educativo no Museu do Trabalho.
Nesta fase de contato com o Museu e
com o Comando Militar do Sul, não sabíamos ainda, o que exatamente poderíamos
desenvolver. Se houvesse resposta negativa de qualquer um dos lados, teríamos
que pensar em reiniciar contatos com outras instituições ou possíveis públicos.
Mas, para a nossa satisfação, ainda em setembro de 2016, recebi a ligação no
meu celular, do militar que apresentou-se como Tenente-Coronel Joel,
respondendo ao pedido protocolado na sede do Comando e solicitando que eu
entrasse em contato com a Tenente Nathália, para passar mais detalhes e
intenções do projeto. Logo adiante, descobrimos que a Tenente Nathália era
museóloga do Museu Militar. Estávamos, então, com as duas respostas positivas de
colaboração que esperávamos. Museu do Trabalho e jovens recrutas do Exército
seriam os atores principais do nosso futuro projeto.
Paralelamente a esse voluntariado no MT,
iniciamos as conversas por telefone, aplicativos de celular e até mesmo
encontros presenciais com a Tenente Nathália, para as tratativas a respeito dos
detalhes da participação dos jovens recrutas. Dependíamos da organização
estrutural do Comando Militar em relação ao efetivo dos jovens militares, para
combinarmos o(s) dia(s) e horário(s) para a realização da ação educativa que
fosse(m), também, de acordo com a agenda das atividades do Museu Trabalho. No entanto, o primeiro contato direto com os
jovens deu-se apenas no dia da ação, no saguão do Museu Militar, onde nos
encontramos com os mesmos para, em seguida, nos deslocarmos em caminhada até o
Museu do Trabalho.
Voluntariado no Museu e início do Projeto Olhares
Com a resposta positiva do Museu do
Trabalho, a dificuldade encontrada foi
pensar em um projeto para um museu que já sobrevive de suas atividades, com a
colaboração de seu público extremamente fiel e muito ligado às artes,
principalmente, às artes gráficas. Ao mesmo tempo, tínhamos a possibilidade de realizar um projeto inédito
junto ao MT, com a escolha de um público
que ainda não conhecia o museu e as atividades ali propostas. O Projeto Olhares
começou a ser elaborado, então. Sabíamos que o Museu tem em sua estrutura o
espaço para exposições de arte, a sala de maquinários, a oficina de gravuras e
escultura e o Teatro do Museu[3].
Começamos a planejar uma atividade
dentro da oficina de gravuras, onde pudessem conhecer alguma das técnicas
usadas para a produção de arte impressa. Pensamos também, em fazer uma mediação
junto à exposição de arte contemporânea que seria instalada em outubro. Embora
soubéssemos qual artista seria o autor desta futura exposição, ainda não tínhamos
ideia do que ele faria. A sala do maquinário estava há alguns meses, fechada
para visitação porém, seria um espaço de circulação durante a ação com os
jovens, além de ser o motivo principal de o Museu chamar-se "Museu do
Trabalho". Naquela sala de maquinários estaria, também, o motivo inicial da
existência da instituição e seria importante considerar os objetos e máquinas
que ali se encontravam, mesmo que considerássemos, no momento da mediação, uma
reserva técnica do MT.
Em setembro, havia uma exposição da
artista Viviane Pasqual[4],
artista de Caxias do Sul, uma importante cidade serrana do Rio Grande do Sul.
Placas em metal, desenhos e bordados estavam no salão do Museu. O diretor do Museu aceitou minha ajuda na
desmontagem desta exposição, mediante minha proposta de voluntariado.
A
artista Vivi Pasqual (à esquerda) conversando com uma convidada.
Fonte:
Acervo Isabel Ayala
Pretendendo então, conhecer melhor o
Museu e "preparando o terreno" para conquistar a confiança de Hugo
participei, em primeiro momento, da palestra de encerramento da Exposição de
Viviane Pasqual, colaborando com a organização do espaço de recepção aos
convidados, onde também, assisti o pronunciamento da artista e do curador.
Três dias depois, trabalhei na desmontagem da mesma exposição e percebi o
carinho e o respeito de Hugo e sua funcionária Anne[5],
para com a artista e suas obras e segui a mesma linha, ao embalar as obras que
não haviam sido vendidas, de forma que ficassem totalmente protegidas, para
suportar a viagem de volta à Caxias do Sul.
Algumas semanas depois, no mesmo
espaço, auxiliei diretamente o artista Eduardo Frota[6]
na montagem da exposição/intervenção Associações Disjuntivas II, que
ficaria instalada até o final de novembro e que teria um papel fundamental em
nossa ação de mediação junto ao público-alvo. A exposição de Eduardo Frota
seria, então, um dos elementos do nosso projeto, pois ficaria em cartaz até o
fim do mês de novembro, o que nos daria condições de planejar e organizar a
mesma, junto às demais atividades da ação educativa com os jovens militares.
Pessoalmente, esta atividade que durou
cerca de uma semana, foi muito
satisfatória pois o tempo de trabalho na montagem desta exposição me permitiu,
conhecer e conviver com o artista e perceber sua obra de um jeito diferente,
participando de forma direta durante sua criação. Além disso, pude circular
pelos espaços do Museu, me aproximar do mestre da oficina de gravuras para
iniciarmos com as ideias possíveis para uma dinâmica, iniciar uma relação de
amizade com Hugo e Anne, os principais responsáveis pela vida do Museu do Trabalho.
Muitas contribuições[7]
interessantes foram surgindo durante esse tempo de convívio com a equipe do MT
e o Projeto foi tomando forma. Em paralelo a esta atividade "braçal",
diálogos recorrentes com Marta eram realizados e nossas ideias foram somando-se
até chegarmos, definitivamente, à definição do que faríamos.
Eduardo
Frota em ação ao fundo.
Detalhe de uma escada deslocada.
Fonte: Acervo Isabel Ayala
Fonte: Acervo Isabel Ayala
Hugo
Silva (centro da foto) e equipe, durante
montagem da Exposição
Associações Disjuntivas II de Edu Frota.
montagem da Exposição
Associações Disjuntivas II de Edu Frota.
Fonte: Acervo Isabel Ayala
Nosso projeto tomou forma e estava
com as atividades definidas em outubro. Estávamos, então, aptas a aplicar a
atividade junto ao grupo de jovens militares. No início de novembro, conforme
agendamento prévio entre todos os envolvidos (Comando Militar, Museu do
Trabalho, Mestre Paulinho), realizamos o primeiro dia de ação. Após nos
encontrarmos com os jovens no saguão do Museu Militar fomos conversando informalmente
até o MT. Sem uma descrição[8]
muito técnica das atividades, informo a
seguir o que realizamos durante a ação, propriamente dita.
Apresentamos a parte externa do
prédio do Museu do Trabalho, onde haviam grafites de vários artistas, ao mesmo
tempo em que conversávamos sobre a arte contemporânea, arte de rua e a própria
história do Museu; realizamos uma dinâmica junto à exposição do artista Eduardo
Frota, aproximando-os de uma arte intervenção em espaço arquitetônico;
visitamos a sala do maquinário e falamos sobre algumas máquinas e equipamentos
e realizamos, por fim, uma atividade na
oficina de gravuras, com a demonstração do processo de litografia[9],
apresentado pelo mestre Paulinho[10].
Mestre Paulinho com a primeira
turma.
Fonte: Acervo Isabel Ayala
Fonte: Acervo Isabel Ayala
Essa atividade na oficina foi
especialmente pensada para os jovens militares, pois além de o mestre preparar
um material específico para a ação do Projeto Olhares, convidamos por fim, os
mesmos a realizar um desenho em uma pedra litográfica.
Marta e eu havíamos criado um
desenho "fantasma" representativo sobre uma pedra e os jovens
"divertiram-se" deixando seus traços e suas marcas, criando o que se
tornaria futuramente em uma litogravura. Desta primeira turma, formada por dez
militares, as gravuras impressas foram guardadas, em primeiro momento, por nós.
Duas semanas depois, a segunda turma formada por uma dupla, realizou o mesmo
roteiro e produziu outro desenho em outra pedra.
Gravura impressa da primeira turma
Fonte: Acervo Isabel Ayala
Gravura impressa da segunda turma (dupla)
Fonte: Acervo Isabel Ayala
Semanas depois, os desenhos das duas turmas tiveram como resultado doze gravuras impressas originalmente na máquina litográfica. Em dezembro, deixamos à disposição dos jovens, no Museu Militar, as arte-gravuras produzidas por eles.
Sobre os Jovens Recrutas
Devido à estrutura organizacional do
Comando Militar, não tivemos contato prévio com os jovens militares e sequer
sabíamos quem seriam os meninos que fariam parte do grupo a ser mediado durante
as visitações ao Museu do Trabalho. A própria Tenente Nathália não tinha como
saber quem seriam os soldados liberados para a ação educativa que estávamos
propondo. No entanto, nossa preocupação a todo momento, sempre foi de proporcionar
uma experiência em que somasse algo ao conhecimento ou desconhecimento que eles
talvez tivessem do Centro Histórico, especialmente do próprio Museu.
Não pretendíamos realizar uma ação
apenas para cumprir um exercício acadêmico mas, sim, algo que pudesse
proporcionar uma experimentação com algo novo aos jovens e que pudesse
despertar um novo olhar ao que, muitas vezes, está próximo de qualquer um de
nós e que nos distanciamos sem perceber. Em vários momentos, fiquei insegura ao
que estávamos propondo, em relação à resposta dos jovens, quando estivessem de
fato, sendo deslocados de seu local de trabalho para uma atividade fora de seu
ambiente e rotina diária.
Devido à organização de efetivo no Comando
Militar, nosso projeto foi desenvolvido
considerando aplicações do mesmo roteiro para três turmas de recrutas, em datas
diferentes. Cada turma, seria com dez soldados, em princípio. No entanto, após
ajustes e possibilidades do próprio Comando realizamos a ação com duas turmas. A primeira turma com nove recrutas e uma Sargento
e a segunda turma com dois recrutas. De qualquer forma, foi gratificante, pois
no total, onze rapazes e uma jovem Sargento, colaboraram com a ação de uma
forma enriquecedora.
Acredito que conseguimos somar algo
aos jovens, assim como aprendemos bastante com eles. Alguns já conheciam ou se
interessavam por arte, outros não conheciam qualquer museu do Centro Histórico.
Inclusive, passavam por diversas vezes, pelo prédio do MT sem ter ideia do que
se tratava. Ficaram muito surpresos com o que experimentaram com a atividade
que conseguimos proporcionar a eles.
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
Foi um desafio, de
fato, realizar um projeto e executar o mesmo em um museu onde não havíamos
feito sequer algum estágio e onde não tínhamos contato ou amizade com os
profissionais envolvidos em sua administração ou atividades e que conhecíamos
apenas como qualquer visitante comum. Além disso, nosso público-alvo, de certa
forma, não esperava ser convidado para uma atividade educativa ligada à arte, no
horário de serviço e fora dos domínios da instituição que o abriga. Um dado
positivo: esse cenário mudou e para melhor, tanto em relação ao Museu do
Trabalho quanto ao nosso público-alvo. Fui convidada a estagiar no Museu e a
Tenente Nathália informou que o Comando Militar está aberto a novos projetos
que venham a surgir. Reconheço que podíamos ter dado mais atenção ao maquinário
do MT. Mas este erro será corrigido nos próximos trabalhos junto ao Museu do
Trabalho.
Pretendo levar outras
turmas de recrutas em 2017, através de projetos elaborados como integrante,
mesmo que provisória, do Museu do Trabalho. Gostaria de perceber como será com
os próximos jovens recrutas e até mesmo, se possível, levar alguns dos jovens
que participaram deste Olhares, pois alguns continuarão no serviço militar. O público-alvo
escolhido é um público original, pelo que percebemos, por não encontrarmos
qualquer referência em outros trabalhos. Percebi com este projeto
que nós, museólogo(a)s, além de buscar novos olhares do público para com as
atividades de um museu, podemos também olhar e perceber estes públicos que
estão perto e, ao mesmo tempo, longe dos museus.
Aprendi que a busca de uma relação
museu e público não se resume a pesquisar e organizar o acervo, montar uma
exposição, abrir as portas da instituição e aguardar o visitante entrar. Elaborar
e executar um projeto de ação educativa, para a disciplina Educação em Museus,
possibilitou-me, além de valorizar ainda mais os profissionais que se dedicam a
esta área, uma melhor compreensão em relação à responsabilidade social de um(a)
profissional em museologia.
Referências
Bibliográficas
GUARNIERI,
Waldisa R. C. Exposição: texto museológico e o contexto cultural. 1986d.
In: BRUNO, Maria Cristina Oliveira (Org.) Walsisa Rússio Camargo Guarnieri:
textos e contextos de uma trajetória profissional. Vol. 1, 1. ed. São
Paulo: Pinacoteca do Estado; Secretaria de Estado de Cultura; Comitê Brasileiro
do Conselho Internacional de Museus, 2010. p. 137-143
GRINSPUM,
Denise. Educação para o patrimônio: Museu de arte e escola –
Responsabilidade compartilhada na formação de públicos. 2000. 131p. Tese
(Doutorado) – Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo. p.
7-27 (capitulo 1).
SANTOS,
Maria Célia Trigueiros Moura. Museu e educação: conceitos e métodos,
2001. [Artigo extraído do texto produzido para aula inaugural do Curso de
Especialização em Museologia do Museu de Arqueologia e Etnologia da USP,
proferida na abertura do Simpósio Internacional “Museu e Educação: conceitos e
métodos”, realizado no período de 20 a 25 de agosto].
Projeto Olhares, descobertas e experimentação
em Arte Contemporânea.
Disponível em: https://belayala.blogspot.com.br/2016/12/projeto-olharesmuseu-do-trabalhojovens.html
[1] Graduanda do
Curso de Museologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Coautora do Projeto Olhares, descobertas
e experimentação em Arte Contemporânea, uma atividade exercício da
Disciplina Educação em Museus 2016/2, ministrada pela Profª Drª Zita Rosane
Possamai.
[2] Em determinados momentos
do texto utilizo-me do pronome em primeira pessoa do plural e em outros, em
primeira pessoa do singular. Isso deve-se ao fato de o projeto ter sido
realizado em parceria com minha colega
Marta Busnello. No entanto, citarei algumas atividades realizadas por mim,
individualmente e em caráter de voluntariado, junto ao Museu do Trabalho,
durante o processo de elaboração e execução do Projeto.
[3] O Teatro do Museu não entrou no
Projeto, pois não tínhamos o tempo suficiente para elaborar uma dinâmica que,
além das artes gráficas e a exposição de arte contemporânea, envolvesse as
atividades cênicas que ocorrem no MT. No entanto, não descarto esta ideia para futuros projetos.
[4] Viviane Pasqual - artista de
Caxias do Sul, estava com a Exposição Bordados, Desenhos e Placas. Os
desenhos e placas, em sua maioria, tratavam da celebração aos imigrantes
senegaleses, domiciliados em Caxias, quando em busca de emprego nas indústrias
da região. Em geral, o trabalho de Viviane é muito colorido e bem humorado.
[5] Anne, estudante alemã. Trabalha,
atualmente, no Museu do Trabalho e em uma ONG que ajuda estrangeiros a
conseguirem hospedagem em Porto Alegre.
[6] Eduardo Frota é um artista
cearense e já realizou outros trabalhos
em Porto Alegre nos últimos anos. Suas obras causam impacto e, geralmente,
transformam o espaço destinado às suas exposições.
[7] Informações sobre os grafites
nas paredes externas do prédio do MT e seus respectivos autores foram passadas
por Anne e Hugo. Isso possibilitou contato pelas redes sociais com os artistas,
os quais contribuíram com informações sobre suas obras, tanto no Museu como em
todo o Brasile, inclusive no exterior.
[8] O texto completo do Projeto Olhares, Descobertas e
Experimentação em Arte Contemporânea pode ser encontrado no blog Na Trilha do Saber, através do endereço www.belayala.blogspot.com.br, assim
como outras publicações relacionadas ao
Curso de Museologia.
[9] Processo de produção de gravura
originada através de um desenho feito em pedra litográfica.
[10] Mestre Paulinho - Paulo
Chimendes - tem formação em litografia,
xilogravura, gravura em metal, desenho e escultura.
sexta-feira, 2 de dezembro de 2016
Projeto Olhares_Museu do Trabalho_Jovens Militares
Esta postagem traz o texto do Projeto Olhares, elaborado como atividade da disciplina Educação em Museus do curso de Museologia da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Desenvolvi o trabalho em parceria com a colega Marta Busnello. O projeto propõe uma ação de educação museal junto ao Museu do Trabalho, voltada
a um grupo de jovens recrutas do Exército Brasileiro lotados nos quartéis localizados no Centro Histórico de Porto Alegre e a
poucos metros do MT. O Projeto foi aplicado com sucesso junto à instituição, em novembro de 2016.
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO
GRANDE DO SUL
FACULDADE DE BIBLIOTECONOMIA E COMUNICAÇÃO
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DA INFORMAÇÃO/CURSO DE MUSEOLOGIA
FACULDADE DE BIBLIOTECONOMIA E COMUNICAÇÃO
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DA INFORMAÇÃO/CURSO DE MUSEOLOGIA
EDUCAÇÃO EM MUSEUS
(BIB03241)
Prof.ª Drª Zita Rosane
Possamai
PROJETO DE AÇÃO EDUCATIVA NO
MUSEU DO TRABALHO
Olhares, descobertas e
experimentação em Arte Contemporânea
Alunas: Isabel Ayala Marta
Busnello
Porto Alegre, 19 de outubro de
2016
1 INTRODUÇÃO Este Projeto é atividade a ser desenvolvida para a
disciplina Educação em Museus do curso de Museologia da Universidade Federal do
Rio Grande do Sul pelas discentes Isabel Ayala e Marta Busnello no Museu do
Trabalho (MT), instituição que atua na área de divulgação e ofício das artes
plásticas e cênicas[1], localizada na Rua dos
Andradas, 230, em Porto Alegre – RS. O projeto propõe uma ação de educação
museal voltada a um grupo de jovens recrutas do exército brasileiro, os quais
cumprem seu expediente nos quartéis localizados no Centro Histórico de Porto
Alegre e a poucos metros do MT. A região central de Porto Alegre foi escolhida
pela quantidade de museus e centros culturais, assim como pela diversidade de
estilos destes locais. A escolha do público está relacionada com a proximidade
da instituição museal e ao desafio das estudantes em atuar junto a pessoas
jovens. Sendo o projeto voltado a um público específico e não ao público
espontâneo de museus, o grupo precisaria estar regularmente reunido,
independente da agenda da instituição. Identificamos nessa região da cidade
muitas corporações as quais poderíamos consultar para contar com um grupo de
participantes e optamos em contatar com o Comando Militar do Sul (CMS).
Definidos a instituição e o público partimos para o estudo de uma ação que,
além de um desafio às estudantes, promova crescimento acadêmico às mesmas. Aos
participantes, será apresentada a história do MT, a arte urbana e atual
presente em sua fachada externa, além da demonstração de um processo de expressão
de arte contemporânea, com técnicas tradicionais. Por fim, será aplicada uma
mediação dinâmica, junto a uma obra de intervenção arquitetônica, que estará
aberta à visitação no período em que será desenvolvido o presente projeto. Ao
propor um olhar sobre a arte contemporânea aos jovens, pretende-se promover a
aproximação dos mesmos com os espaços culturais, em especial, com o Museu do
Trabalho. Para tanto, buscamos conceitos norteadores em autores como Cristina
Bruno, Denise Grinspun, Maria Célia Santos e outros pesquisadores para o desenvolvimento da atividade e a
promoção da dinâmica e comunicação entre o Museu e o público escolhido.
Importante salientar que o diretor do MT, Hugo Silva e a Tenente Nathalia
Santos da Costa, oficial museóloga no Museu Militar do CMS, colaboraram de
forma efetiva com as estudantes, possibilitando o acesso ao Museu e ao público
de interesse, respectivamente.
1.1
O Museu do Trabalho
No contexto de patrimônios pertencentes ao Complexo do Centro Histórico
Cultural de Porto Alegre, o Museu do Trabalho tem características peculiares.
Transcrevemos, a seguir, os dados disponíveis no site da instituição sobre a
sua constituição, ocupação e atuação, os quais também justificam o nome
"Museu do Trabalho", dado à instituição que, atualmente, se apresenta
como um espaço alternativo e independente de arte. "O Museu do Trabalho é
uma entidade civil. Foi fundado em 7 de dezembro de 1982, como parte de um
projeto de preservação e restauração da antiga Usina do Gasômetro, abandonada
pela Eletrobrás. Seu prédio foi tombado como Patrimônio Histórico do Estado em
1983, após um amplo debate público sobre o destino da Usina. No entanto, o
projeto inicial de ocupação da Usina do Gasômetro foi totalmente implantado e o
Museu do Trabalho continua em sua sede provisória: os galpões de propriedade da
Marinha do Brasil, situados no início da Rua da Praia. Desde 1986 ostenta
numeroso acervo de máquinas, instrumentos, filmes, fotos e documentos
referentes ao trabalho e à sua história social e começa a aparecer como novo
espaço cultural para a cidade. Já em 1987 em um dos galpões anexos ao museu,
montou-se o Teatro do Museu do Trabalho. Nos outros galpões, instalou-se um
atelier de artes plásticas, especificamente as gráficas. Hoje um dos mais amplos
e completos ateliers de gravura do estado. O Museu do trabalho também tem uma
sala de exposições temporárias e oferece cursos de artes plásticas, dança,
música e teatro, mas é através dos consórcios de gravuras e esculturas que
garante sua sustentabilidade." (http://www.museudotrabalho.org). As
visitações ao Museu do Trabalho ocorrem de terça a domingo, das 13h30min às
18h30min.
2
PARTICIPANTES
Foram convidados trinta recrutas do Exército Brasileiro. Eles cumprem serviço
militar obrigatório nos quartéis do Centro Histórico de Porto Alegre. Serão
divididos em três turmas de dez integrantes e cada turma participará de um
mesmo roteiro de atividades. Os jovens, com idades entre dezoito e dezenove
anos, em sua maioria, com ensino médio concluído, cumprem rotinas militares
diárias na corporação. Normalmente, após o expediente, por volta das 18 horas
voltam para suas casas. Alguns dias por semana cumprem o "plantão de
serviço", onde a jornada é de 24 horas dentro da instituição militar. O
público-alvo para o projeto em questão, nas datas determinadas e agendadas com
o CMS, será formado pelos jovens que estarão em expediente normal, ou seja, que
poderão ser escalados pelo CMS para participar da dinâmica da ação educativa. O
projeto desenvolvido com três datas previamente combinadas, dentro do período
de três semanas seguidas (21 dias), terá dez jovens a cada atividade. Pelo fato
de a ação educativa contar com mais de uma data, espera-se que, eventualmente,
algum recruta que estiver em "plantão de serviço" durante uma
atividade, possa participar em outra. Os dados específicos e individuais de
cada participante, teremos somente alguns dias antes da ação educativa, devido
ao regime de escalas do CMS.
3
OBJETIVOS · Estimular a visitação de jovens
aos equipamentos de cultura; · Conhecer o Museu do Trabalho e
as atividades desenvolvidas no local; ·
Desenvolver ação de mediação; ·
Provocar os olhares para uma experiência pessoal e informal da Arte
Contemporânea em exposição no MT; ·
Promover a experimentação do fazer artístico por meio de uma das linguagens da
Arte Contemporânea.
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JUSTIFICATIVA Com
as respostas positivas de colaboração do Museu do Trabalho e do Comando Militar
do Sul - ambos situados na rua dos Andradas, considerada o Corredor Cultural do
Centro Histórico da Cidade - começamos o nosso estudo, para efetivamente,
planejar um projeto com uma ação possível e desenvolvê-lo dentro do prazo da
disciplina. Face às peculiaridades do Museu do Trabalho e à entrevista com o
Diretor da instituição, senhor Hugo Silva, identificamos que uma ação educativa
com jovens militares está relacionada diretamente ao conceito de desafio.
Primeiro, porque estamos
desenvolvendo um projeto pela perspectiva de um museu que não possui setor
educativo para os públicos diversos que estão à sua volta. Não significa a
falta de interesse da instituição, mas por tratar-se de um museu que possui
forte relação com grande parcela da comunidade artística de Porto Alegre,
principalmente das artes visuais, que frequenta a instituição com assiduidade,
colabora, produz e, inclusive, adquire suas obras. Talvez a necessidade de
chamar outros públicos não tenha sido ainda percebida. Segundo, porque
acreditamos na função social dos museus e entendemos ser a integração com os
públicos em sua diversidade, de suma importância. O público de interesse,
formado por jovens Recrutas do Exército, está vinculada aos pontos a seguir
elencados: - O Museu do Trabalho não possui um projeto educativo; -
Inexpressiva visitação de jovens e da comunidade do entorno no MT; - Proximidade
local dos jovens com o Museu do Trabalho; - Facilidade das estudantes em
acessar aos jovens recrutas do CMS[2]; - Desafio de trabalhar
com público jovem e, em especial, com o referido perfil, tendo em vista que os
mesmos vivenciam em seu cotidiano a formalidade e a rigidez de normas
militares. Tomamos a definição do Estatuto da Juventude do Brasil que considera
jovem todo o cidadão com idade entre 15 e 29 anos. Compreendemos que essa época
é de experimentações, definições e indefinições sobre seus interesses pessoais
e perspectivas futuras de suas vidas. Assim, conhecer um aspecto cultural
próximo pode contribuir para ampliar suas experiências de vida. Nosso grupo de
participantes pode ser considerado incomum, dentro da ótica, das perspectivas e
das expectativas da educação em museus de arte. No entanto, as palavras de
Maria Célia Santos, nos motivam a seguir a trilha que iniciamos até aqui. Para
ela, os métodos e as técnicas a serem utilizados em projetos a serem
desenvolvidos pelos museus e pelas escolas, devem ser apoiados nas concepções
de educação, de museologia e de museus adotadas pelos sujeitos sociais
envolvidos no planejamento e na execução dos mesmos, devendo, pois, ser
adaptados aos diferentes contextos, aos anseios e expectativas dos diversos
grupos com os quais estejamos atuando, sendo repensados constantemente,
modificados e enriquecidos com a nossa criatividade, com a nossa capacidade de
ousar, realizando um processo constante de ação e de reflexão, no qual teoria e
prática estejam sempre em interação. (2001, p.2)
Embora não estejamos tratando com
escolas e sim, com um grupo de jovens militares, aí está o desafio de nosso
trabalho: encontrar novas possibilidades de integração entre museus e seus
prováveis públicos, apresentando as diversidades que podemos descobrir em
ambos. Trata-se de um público que circula no entorno do equipamento cultural,
objeto do trabalho e que, no entanto, não visita o Museu.
A pesquisa sobre a instituição,
os artistas, as atividades de produção de arte e das obras que estão em
exposição e até mesmo sobre o público, nos fizeram encontrar as formas que
melhor pudessem se adequar ao projeto. O desenvolvimento da ação de mediação,
sendo um dos objetivos deste projeto, já informado no item anterior, pode nos
trazer gratas surpresas, mesmo, sendo aplicado um dos métodos de interpretação
mais utilizados, conforme Grinder e McCoy citados por Grinspum:
De acordo com GRINDER e MCCOY7
(1998: 56-57), existem muitos tipos de visitas monitoradas e as que propiciam
melhor aprendizagem e aproveitamento são as que utilizam métodos de
interpretação. Os métodos de interpretação mais utilizados são: visita-palestra,
discussão dirigida e descoberta orientada. (2000, p.48) Para Waldisa Guarnieri,
a ação educativa, na perspectiva museológica,
(...) é usada em sentido de
aprendizado constante para a vida e, não, meramente como ensino acadêmico ou
educação formal. (...) tanto atividades “educativas” como “culturais” servem à
educação como processo permanente e contribuem para a realimentação da cultura,
entendida esta em seu sentido mais amplo e dinâmico. (1980, p.140-142) Assim,
este projeto apresentará uma experiência em museu, valendo-se do método da
"descoberta orientada", onde haverá interação das mediadoras com o
público, a fim de buscar um novo olhar, uma nova percepção ou até, mesmo, uma
ideia jamais imaginada pelos indivíduos que fazem parte deste grupo de participantes,
a partir da ação educativa com viés cultural.
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DESENVOLVIMENTO
O Projeto teve seu início com a consulta a algumas instituições museais e com o
CMS. Após recebermos a resposta do diretor Hugo Silva do Museu do Trabalho, que
aceitou colaborar com o projeto e da Tenente Nathalia, Museóloga do Museu
Militar do Comando Militar do Sul, a qual entrou em contato, após nosso pedido
junto ao protocolo do Comando, concedendo-nos autorização para acesso ao grupo
de jovens recrutas, começamos a pesquisa.
Considerando o perfil do local a
ser visitado e do público, entendemos que a metodologia a ser trabalhada com o
mesmo deve ser a mediação, com o objetivo de promover a construção de
significados e novos olhares no espaço expositivo. Em virtude do público ao qual
se destina a ação educativa – jovens Recrutas do Exército – a autorização
prévia, obtida junto ao Comando Militar do Sul, define que os trinta Recrutas
devem participar da atividade em grupos de dez e em dias alternados. Assim, a
mesma ação será desenvolvida em três ocasiões, com o seguinte roteiro:
1ª etapa: O encontro com os
jovens no Museu Militar. No saguão da instituição será feita aos recrutas a
apresentação das estudantes, do projeto a ser aplicado e uma breve descrição do
local a ser visitado. Na sequência, cada estudante acompanhará um grupo com
cinco Recrutas até o Museu do Trabalho, em uma caminhada até o MT. Durante o
percurso, as estudantes farão interações com cada grupo sobre suas experiências
em visitação a Museus.
2ª etapa: Chegando ao local, os
grupos se reúnem e as estudantes passam a fazer a mediação direcionando a
atenção dos Recrutas para o prédio do Museu, sua localização e arquitetura.
Nesta mediação será apresentada aos jovens, a arte na fachada externa do prédio
que apresenta pinturas, desenhos, grafite e mosaicos em cerâmica.
3ª etapa: A seguir, encaminham-se
para o interior do prédio, especificamente, para a oficina de gravuras. Na
terceira etapa conhecerão o processo de produção e reprodução de arte em litografia[3], na Oficina de Gravuras
que funciona em um dos pavilhões do Museu. Essa atividade será desenvolvida
pelo chefe da oficina, Paulo Chimendes, mais conhecido por mestre Paulinho.
Formado em litografia e em outras áreas das artes plásticas, inclusive gravura
em metal, xilogravura e esculturas, Paulinho vai preparar o material especialmente
para os jovens participantes do projeto, onde fará a demonstração completa da
produção e impressão de uma litogravura. Os participantes deixarão a sua “marca
artística” em litogravura, conforme roteiro apresentado no anexo 1.
4ª etapa: Finalizada a
demonstração na Oficina de Gravuras, os participantes do projeto conhecerão o
maquinário em exposição permanente no Museu. Nessa etapa, as “mediadoras” farão
uma explanação do que se trata o maquinário e o motivo pelo qual estão em
exposição.
5ª etapa: A última etapa da ação
educativa mediada pelas estudantes é a visitação da sala de exposições onde
ocorre a intervenção “Associações Disjuntivas II”, do artista visual cearense
Eduardo Frota. Antes de entrarmos nesse espaço expositivo, as mediadoras conversam
com os Recrutas e explicam que na próxima sala eles verão uma intervenção, que
no universo da arte contemporânea é todo processo que provoca uma interferência
artística seja num espaço urbano, em obras de arte ou produtos preexistentes ou
em projetos arquitetônicos, de forma definitiva ou efêmera.
Valendo-se, então, da técnica de
“descoberta orientada”, as monitoras proporão aos visitantes que descubram as
intervenções feitas no ambiente. Eles podem escolher por onde começar e as
monitoras estimulam novas direções do olhar ou, até mesmo, jogos podem ser
propostos, direcionando a uma experiência lúdica de percepção material e
espacial em relação ao trabalho do artista (anexo 2). Essa proposta está
intimamente ligada ao modelo de intervenção ofertada ao público pelo artista
visual Eduardo Frota.
O artista utiliza, conforme
descrito no material de divulgação, “a própria arquitetura do prédio para
compor sua obra. As portas, os vidros das janelas internas, a escada que conduz
à reserva técnica do acervo de máquinas, tudo foi removido de seu lugar de
origem, para, na sequência, ser recodificado como se fosse desenho ou pintura
nas próprias paredes do prédio. As partes, assim reinstauradas, dão outra
fisicalidade ao todo, reinventando o espaço arquitetônico do velho galpão de
madeira. Parte do prédio, bastante conhecido pelo público porto-alegrense,
aparece todo reconfigurado, colocando à mostra recantos e detalhes até então
insuspeitados”. Cabe às mediadoras observar e, se necessário, instigar
correlações entre as propostas pelo artista e a interpretação dos jovens.
O final da ação educativa,
contará com a proposta aos visitantes de uma avaliação do projeto e das
estudantes, na forma de imagens (anexo 3) e com a entrega de uma impressão da
arte gravura (anexo 4) - resultado da dinâmica na oficina - a cada um dos
participantes.
ANEXO 1 - Oficina de gravuras
A Oficina de Gravuras do Museu do
Trabalho produz gravuras através das técnicas de xilografia, gravura em metal e
litografia. O processo de impressão apresentado aos visitantes será o da
litografia. Trata-se da técnica de impressão que utiliza uma pedra calcária de
grão muito fino e baseia-se na repulsão entre a água e as substâncias
gordurosas.
Fonte:
http://7dasartes.blogspot.com.br/2011/09/o-que-e-litografia.html Pedra
litográfica Mestre Paulinho fará a demonstração completa do processo de
produção de uma litogravura. Os jovens serão convidados a participar do momento
em que o desenho será traçado na pedra. O processo de litografia consiste,
basicamente, nas etapas informadas a seguir.
O processo:
1. Limpar a pedra com lixas e
grãos de areia
2. Aplicar produto químico (ácido
acético)
3. Desenhar na pedra com lápis
litográfico - Esta etapa terá a participação dos visitantes. Cada jovem
contribuirá com um ou mais traços no desenho (com ideia pré-concebida pelas
acadêmicas e o mestre da oficina) que dará origem à gravura.
4.Gravar o desenho com uso de
grão fino de areia
5. Pulverizar com estopa para
retirar o excesso de grãos
6. Aplicar talco especial para
litografia
7. Pulverizar com estopa para
retirar o excesso de talco
8. Aplicar goma pura e massagear
(com as mãos) a pedra
9. Aplicar com pincel, soluções à
base de goma é ácido nítrico
10. Retirar a camada de goma
através de lavagem da pedra com água usando uma esponja litográfica
11. Aplicar outra camada de goma
12. Secar a pedra com abanador
13. Aplicar solvente e asfalto
líquido
15. Lavar a pedra com água
16. Passar o rolo de tinta até
imagem tornar-se visível novamente
17. Aplicar soluções ácidas
18. Entintar a superfície da
pedra com rolo de tinta
19. Limpar com água a imagem e as
bordas da pedra
20. Retirar o excesso de água com
esponja litográfica
21. Colocar o papel úmido sobre a
superfície da pedra
22. Imprimir com o uso de uma
prensa litográfica
23. Iniciar a tiragem com papel
de impressão
A impressão da imagem é obtida
por meio de uma prensa litográfica que desliza sobre o papel.
Fonte:
http://blogdoorlando.blogosfera.uol.com.br Modelo de prensa litográfica
Importante lembrar que cada etapa tem seu tempo de execução próprio, tanto para
a aplicação, quanto para o repouso entre algumas ações.
ANEXO 2 - Dinâmica
Descobrindo a intervenção através
do jogo do Sim e Não
Objetivo: Promover a interação
dos jovens com a intervenção, ao identificar os materiais e o espaço ao qual
pertenciam, estimulando a percepção da diversidade ao pensar o trabalho da
arte, buscando seus significados e ressignificados.
Após visitar as obras expostas, o
grupo se reúne. As mediadoras propõem a seguinte dinâmica:
Um grupo se afasta para uma das
salas do Museu e o outro escolhe duas obras da intervenção para que o outro
grupo identifique a opção. Em um post-it descrevem o que escolheram e entregam
para a sua mediadora. O outro grupo retorna e é orientado por sua mediadora
como se desenvolverá o jogo do sim e do não.
As perguntas serão sobre os
materiais e espaços.
Ex.
Representante do grupo escreve no
post-it “obra em vidro branco”.
Grupo 2 pergunta: a obra é em
vidro?
Grupo 1 responde: Sim
Grupo 2: A cor da obra é preta?
Grupo 1: Não
Grupo 2: Está na parede à
esquerda?
Grupo 1: Sim
Etc.
Ao identificarem o objeto e sua
localização atual, a mediadora fará intervenção solicitando que todos mostrem
onde, originalmente, se encontravam os materiais utilizados na intervenção
escolhida pelo Grupo.
Na sequência, a dinâmica é
realizada com o outro grupo.
ANEXO 3 - Avaliação
Você gostou da proposta das
estudantes de Museologia?
Você gostou da visita?
ANEXO 4 - Litogravura
As litogravuras, produzidas com a
participação dos jovens durante o período da ação educativa, serão entregues a
cada integrante do grupo que corresponder à sua arte e produção. Serão três
gravuras diferentes, cada uma com uma marca característica de cada grupo
participante. Os jovens assinarão a arte e receberão, individualmente, uma
impressão (pela máquina litográfica e em papel especial) da gravura da qual
participaram com seu traço pessoal.
Ideia de litogravura a ser
produzida:
Arte com o Museu do trabalho e o
Museu Militar do CMS
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
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IDÉIAS PARA A SUA ORGANIZAÇÃO DISCIPLINAR. Cadernos de Sociomuseologia, América
do Norte, 9, Jun. 2009. Disponível em:
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Acesso em: 02 Out. 2016.
GUARNIERI, Waldisa R. C.
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Cristina Oliveira (Org.) Walsisa Rússio Camargo Guarnieri: textos e contextos
de uma trajetória profissional. Vol. 1, 1. ed. São Paulo: Pinacoteca do Estado;
Secretaria de Estado de Cultura; Comitê Brasileiro do Conselho Internacional de
Museus, 2010. p. 137-143
GRINSPUM, Denise. Educação para o
patrimônio: Museu de arte e escola – Responsabilidade compartilhada na formação
de públicos. 2000. 131p. Tese (Doutorado) – Faculdade de Educação, Universidade
de São Paulo, São Paulo. p. 7-27 (capitulo 1).
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PAULO - USP - SÃO PAULO/SP, BRASIL), Denise. Mediação em museus e em
exposições: espaços de aprendizagem sobre arte e seu sistema. Revista GEARTE,
[S.l.], v. 1, n. 3, dez. 2014. ISSN 2357-9854. Disponível em:
. Acesso
em: 03 Out. 2016.
SANTOS, Maria Célia Trigueiros
Moura. Museu e educação: conceitos e métodos, 2001. [Artigo extraído do texto
produzido para aula inaugural do Curso de Especialização em Museologia do Museu
de Arqueologia e Etnologia da USP, proferida na abertura do Simpósio
Internacional “Museu e Educação: conceitos e métodos”, realizado no período de
20 a 25 de agosto].
https://www.facebook.com/museudotrabalho.
Exposição Associação Disjuntivas. 14 de outubro de 2016
http://www.museudotrabalho.org.
Museu do Trabalho. 3 de outubro de 2016
http://www.planalto.gov.br.
Estatuto da Juventude. 3 de outubro de 2016
[1] O Museu do Trabalho aluga,
atualmente, um de seus pavilhões com estrutura para apresentações de
espetáculos, denominado Teatro do Museu a uma companhia de teatro da capital (a
Casa de Teatro de Porto Alegre). A Casa de Teatro faz ensaios e apresentações,
inclusive de peças teatrais direcionadas ao público infantil e tem intensa
atividade no espaço. A sede da companhia é em outro endereço, em Porto Alegre.
Localiza-se na rua Garibaldi, 853, bairro Floresta.
[2] A
escolha dos jovens para vivenciar essa experiência está vinculada à facilidade
de acesso ao grupo, tendo em vista que uma das proponentes é mãe de um recruta.
Ressalte-se que o jovem não participará da atividade.
[3]
Técnica de produção e
impressão de gravuras, onde se utiliza um bloco de pedra calcária. Com o mesmo
bloco é possível a reprodução de várias cópias da mesma arte.
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