sábado, 23 de maio de 2009

Ao Arqueólogo do Futuro

Ao Arqueólogo do Futuro
08/05/2009
Isabel Ayala


Caro Arqueólogo,

Não sei bem em que época, ano, situação ou contexto você vive no momento da descoberta desta carta. Talvez seja uma era em que os homens (caso ainda existam) não precisem resgatar idéias, pensamentos e atitudes mais antigas para tentar consertar o que se passa em seu presente. Pois digo, desde já, pode não dar certo. Vivo em uma época onde a tecnologia e o desenvolvimento médico e industrial não abafam as atitudes que, espero, sua sociedade tenha superado e transformado. Atitudes como a intolerância com o Outro. A não aceitação de uma etnia, nacionalidade, pensamento ou religião. Poderíamos ficar horrorizados com a realidade do meu passado. Mas saiba que o meu presente, nada mais é do que um retrato de desigualdade, diferenças, guerras baseadas em conhecimento tecnológico e barbárie.
Claro, também temos coisas boas no meu presente. Engraçado escrever tanto sobre presente, passado e presente que um dia será o passado. O tempo pode ser dividido em números. Tanto que fiz questão de colocar a data em que escrevo estas palavras, no início desta carta. Mas, também, o tempo pode ser a memória, a vivência, a experiência da História. É como se fosse uma onda...não sei bem se uma onda em que fazemos parte da energia que a move, ou se uma onda que nos leva a um destino incerto.
Aprendi, nestes livros de História, que povos do meu passado, através de alguns indivíduos, fossem artistas, filósofos, cientistas ou tudo isso junto,não se conformaram com suas realidades e tentaram transformar seu universo. Em alguns momentos, colocando Deus ou Deuses como o Centro de tudo, em outros colocando o próprio homem como o eixo principal da existência. Existiu em algum momento do passado do meu presente, um resgate de idéias, mais antigas ainda de quem o fez. Algo muito importante que não comentei até o momento: meu mundo divide-se em Ocidente e Oriente e, há muito, tratamos a História assim. Falo do Ocidente, ou melhor, de um país colonizado por algumas poderosas nações ocidentais.
Hoje, caro Arqueólogo, estamos sedentos de muitas coisas boas ou de notícias boas. Embora sedentos, pouco fazemos ou realizamos para que elas aconteçam. Interessante seria, juntarmos todos os líderes da melhor estirpe: cientistas, estudiosos, pensadores, políticos (os bons!), escritores, etc, a exemplo de Rafael Sanzio, que pintou o quadro “Escola de Atenas”, para chegarmos a uma receita de evolução. Evolução humana e social. Falo em evolução e não apenas resgate de idéias de outros tempos. Espero que a sua visão sobre a minha sociedade seja mais autocrítica do que observadora. Afinal, você faz parte do produto de nossos feitos. No meu tempo, a sua função, de arqueólogo, faz parte da História ciência. Você, como pessoa, faz parte da História onda, da História que fala do tempo, dos boatos, da morte, da intolerância. Não sei se você é de uma sociedade que se julga superior às outras, pois desejo que este pensamento, ou este julgamento, tenha evoluído ou se transformado em algo bem mais transcendental.
Talvez, vocês ainda dêem importância ao boato e o estudem como estudamos hoje. Porque atrás do boato pode haver muita história para explicá-lo. Estudamos a intolerância, mas não deixamos de praticá-la. Na maioria das vezes, o Eu é superior ao Outro. Podemos tolerar a intolerância? Você e sua sociedade são tolerantes?
Enfim, “nós que aqui estamos, por vós esperamos”. Estamos preparando o mundo para você, meu caro Arqueólogo do Futuro. Escrevo de uma sala de aula e esta carta é o exercício de uma prova. Estou dentro de uma universidade e acredito que você tenha algo parecido com uma escola na sua sociedade. Talvez igual, diferente...mas acredito que a tenha, na minha mais feliz idéia de evolução.

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